São Paulo – A Bolsa de Valores de São Paulo abriu com forte alta, mas os dados considerados negativos pelo mercado do relatório do mercado de trabalho dos Estados Unidos provocaram a desaceleração do Ibovespa. Ao final da primeira etapa dos negócios, o índice tinha elevação de 1,33%, aos 60.280 pontos, com volume financeiro negociado de R$ 2,997 bilhões. Segundo um operador de corretora, o mercado pode manter elevação em torno de 1% até o final do dia. “Acho que não tem mais nada que possa determinar o andamento do mercado para baixo”, avaliou.
A economia norte-americana eliminou empregos em janeiro pela primeira vez em quatro anos e meio, aumentando o receio de uma recessão. A taxa de desemprego caiu de seu maior patamar em mais de dois anos. As empresas fecharam 17 mil vagas, após criação 82 mil postos de trabalho abertos no mês anterior (números revisados), de acordo com o Departamento do Trabalho. Foi a primeira retração desde agosto de 2003, quando foram eliminados 42 mil empregos. A taxa de desemprego passou de 5% para 4,9%, em linha com as previsões. Já as expectativas de criação de vagas chegavam a 70 mil.
Um analista lembra que importantes notícias do cenário corporativo internacional sustentam a elevação dos principais mercados e também no Brasil. Hoje, o setor de mineração é um dos destaques do dia. No Brasil, a Vale é a maior beneficiada e sustentou a elevação do Ibovespa nesta manhã.
As produtoras de alumínio norte-americana Alcoa Inc. e chinesa Aluminum Corp. of China (Chinalco) anunciaram hoje que compraram uma participação de 12% na mineradora anglo-australiana Rio Tinto por US$ 14 bilhões, com o objetivo de interromper os planos da mineradora BHP Billiton de comprar a sua concorrente, que se tornaria seria a maior fornecedora de alumínio e carvão do mundo.
Além disso, a notícia de que a fabricante de software norte-americana Microsoft fará uma oferta de US$ 44,6 bilhões pelo site de buscas Yahoo Inc movimenta as ações. O valor representa US$ 31 por ação, prêmio de 62% sobre o fechamento das ações do Yahoo ontem, beneficiando os mercados como um todo.
No Brasil, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior informou que a balança comercial de janeiro ficou abaixo do patamar de US$ 1 bilhão, fechando com superávit de US$ 944 milhões. As exportações no primeiro mês do ano somaram US$ 13,277 bilhões e as importações, US$ 12,333 bilhões. Em relação a janeiro de 2007, o saldo comercial teve queda de 62,5%, pela média diária – na comparação em dezembro, o recuo foi de 76,4%. Em janeiro, as vendas ao exterior apresentaram média diária de US$ 603,5 milhões, volume 20,9% maior que o registrado no mesmo período do ano passado e 15,2% inferior ao alcançado em dezembro. Já as importações cresceram 45,6% ante 2007, com média diária de US$ 560,6 milhões. Em relação a dezembro, o crescimento foi de 5,8%. No período de 12 meses, até janeiro, o saldo da balança está positivo em US$ 38,456 bilhões, com US$ 139,504 bilhões em exportações e US$ 93,367 bilhões em exportações. O superávit é 16,6% inferior ao registrado no período fevereiro/2006-janeiro/2007.
No cenário corporativo, uma das maiores altas do dia é da Cyrela, com ganhos de 5,67%, a R$ 24,20. Hoje a empresa informou que desistiu do pedido de registro de oferta pública de distribuição primária de ações ordinárias de sua emissão. De acordo com a companhia, a decisão foi adotada tendo em vista as condições atuais do mercado. A nova oferta primária havia sido solicitada pela Cyrela à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em 18 de dezembro de 2007. Segundo a empresa, novo pedido de registro de oferta pública de ações poderá ser realizado no futuro.
Também registram alta as ações PNA e ON da Vale, com avanço de, respectivamente, 3,66%, a R$ 46,41, e 4,37%, a R$ 54,10. A pesquisa "The 2007 Value Creators Report", realizada pelo Boston Consulting Group, mostrou que a mineradora é a empresa em todo o mundo que mais gera valor para seus acionistas, entre as empresas com valor de mercado superior a US$ 50 bilhões. De 2002 a 2006, a mineradora brasileira conquistou o primeiro lugar no ranking global da área, ficando à frente de gigantes globais como América Móvil (México), Apple e Boeing (Estados Unidos), Toyota, (Japão), BAT (Reino Unido), além de BHP Billiton e Anglo American. O estudo analisou o desempenho de 610 companhias, retiradas de um universo de cinco mil empresas em 44 países, entre 2002 e 2006. O cálculo usa como base o retorno total ao acionista, ou seja, o ganho proporcionado ao acionista pela variação do preço das ações e o recebimento de dividendos durante determinado período. A Vale teve retorno médio de 54,6% ao ano no período analisado.
No entanto, a Vale foi condenada a pagar R$ 1,8 bilhão ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). O valor corresponde à Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) cobrado pelo DNPM. Segundo informa a assessoria de imprensa da Advocacia-Geral da União, a CFEM está prevista na Constituição Federal para assegurar aos estados, municípios e órgãos da administração direta da União a participação no resultado da exploração de recursos minerais no território nacional. A Lei 97.990/89 fixa a CFEM em 3% sobre o valor do faturamento líquido da empresa, resultante da venda do produto mineral obtido após a última etapa do processo de beneficiamento adotado e antes de sua transformação industrial. Neste caso, segundo a assessoria de imprensa da AGU, a Vale foi autuada pelo DNPM por não ter pagado a porcentagem correta no período de janeiro de 1991 a dezembro de 2006. A empresa apresentou ao Departamento Nacional de Produção Mineral dois recursos administrativos para questionar a base de cálculo da CFEM, não acolhidos pelo órgão. A Vale levou o caso à Justiça. Obteve decisão favorável na 13ª Vara Federal de Brasília. A Procuradoria Federal recorreu, então, ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que suspendeu a decisão. A Procuradoria sustentou que a Portaria 340/06 do DNPM, que instituiu a quarta atualização do Manual de Procedimentos de Arrecadação e Cobrança da CFEM, prevê somente duas instâncias administrativas para tramitação do recurso. O TRF-1 considerou que a portaria do departamento está em sintonia com o artigo 57 da Lei 9.784/99, responsável por regular os processos administrativos no serviço público. O artigo estabelece que o recurso administrativo tramitará no máximo por três instâncias.
Outra empresa que registra alta nesta sexta-feira é a Net, com valorização de 2,20%, a R$ 20,89. O lucro líquido da operadora atingiu R$ 96 milhões no quarto trimestre de 2007, aumento de 243% ante o mesmo período de 2006 (R$ 28 milhões). Em 2007, o lucro de líquido chegou a R$ 208 milhões, crescimento de 151% em relação a 2006 (R$ 83 milhões). A receita líquida de outubro e dezembro do ano passado foi de R$ 799 milhões, aumento de 29% ante o quarto trimestre de 2006 (R$ 619 milhões). No ano, a receita cresceu 28%, R$ 2,267 bilhões em 2006 para R$ 2,902 bilhões em 2007. O Ebitda foi de R$ 216 milhões no quarto trimestre de 2007 e de R$ 176 milhões no mesmo período de 2006, crescimento de 23%. A margem Ebitda caiu um ponto percentual, de 28% para 27%. Em 2007, a variação foi de 26%, chegando a R$ 804 milhões. No mesmo período do ano anterior, o Ebitda foi de R$ 639 milhões, c a margem se mantendo em 28%.
Já a Usiminas registrava ganhos de 3,33%, a R$ 85,25. Tanto a Moody´s América Latina como a Standard & Poors atribuíram ratings à futura emissão de R$ 500 milhões de debêntures subordinadas da empresa, com vencimento em 2013. Os recursos serão usados para financiar investimentos. No caso da Moody´s, a agência atribuiu rating em moeda local de Ba1 e rating em sua escala nacional brasileira de Aa1.Br, ambos com perspectiva estável. Já a S&P atribuiu rating brAA+ na escala nacional Brasil, além de reafirmar o rating de crédito corporativo brAAA, com perspectiva estável.
Além disso, sobem as ações preferenciais da Vivo e da Tim, com altas de 2,06%, a R$ 10,36, e 2,83%, a R$ 6,89. Telecom Itália e Telefônica, as controladoras da Tim e Vivo no Brasil, respectivamente, não confirmam a possibilidade de uma possível fusão das companhias. Procurada, a assessoria de imprensa da Telefônica afirmou que a empresa não comenta o assunto. Já a Telecom Itália divulgou comunicado em que diz "ser destituída de fundamento qualquer informação a respeito de uma fusão da Tim com a Vivo". Desde que a notícia sobre uma possível compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi ganhou mais força, no final do ano passado, o mercado especula essa aproximação também das duas companhias de telefonia móvel. Para aprovar a compra da BrT, o governo terá de alterar o Plano Geral de Outorgas (PGO), já tendo sinalizado positivamente para isso. A partir daí, se abre um debate mais amplo sobre a reestruturação do setor no país. De acordo com informações divulgadas na imprensa, a Telefônica teria se sentido prejudicada com a operação das empresas concorrentes.
No sentido oposto, registram queda as ações do Unibanco (2,33%, a R$ 22,17), Itaú (1,49%, a R$ 38,22), Bradesco (1,88%, a R$ 45,85) e Banco do Brasil (0,58%, a R$ 29,08). Segundo analistas do setor, a notícia de que o Banco Central divulgou uma circular que institui o recolhimento compulsório sobre Depósitos Interfinanceiros captados de sociedades de arrendamento mercantil derrubou as ações. A partir de março, os bancos comerciais, bancos múltiplos, bancos de desenvolvimento, bancos de investimento, bancos de câmbio, caixas econômicas e sociedades de crédito, financiamento e investimento deverão recolher ao BC, em títulos públicos federais, até 25% dos depósitos captados das sociedades de arrendamento mercantil. Além disso, será recolhido um compulsório de 100% sobre o aumento do depósito interfinanceiro em relação à posição na data de publicação da circular. O somatório desses dois recolhimentos é limitado a 25% do saldo total existente a cada data-base.
As ações com o maior volume financeiro negociado são as PNA da Vale, com R$ 427,493 milhões, seguidas pelas preferenciais da Petrobras, com R$ 418,030 milhões, e com papéis em alta de 2,07%, a R$ 82,07. Ontem à noite, a estatal divulgou esclarecimentos sobre notícia veiculada na edição de terça-feira (29) do jornal “O Globo”, segundo a qual o conselho de administração da estatal teria autorizado uma “proposta agressiva” pela distribuidora Esso. A Petrobras informou que, de acordo com a sua estratégia corporativa, busca liderar o mercado brasileiro de distribuição de derivados de petróleo e biocombustíveis, com maximização do market-share, garantindo rentabilidade. A estatal destaca que está sempre examinando oportunidades de novos negócios nos setores nos quais tem interesse. No entanto, em relação às matérias veiculadas recentemente, a estatal informou que não houve deliberação a respeito pelo conselho de administração da estatal.
Mercados internacionais
Nos Estados Unidos, as bolsas operavam sem rumo definido. Há pouco, o índice Dow Jones acelerava 0,35%, a 12.694,58 pontos, e o Nasdaq C recuava 0,30%, a 2.382,70 pontos. Já o S&P 500 caí 0,04%, a 1.377,94 pontos.
Na Europa, as principais bolsas operavam em alta. O índice FTSE-100 de Londres subia 1,99%, a 5.996,60 pontos, e o DAX-30 de Frankfurt tinha ganhos de 1,90%, a 6.981,95 pontos, enquanto o índice CAC 40 da Bolsa de Paris registrava valorização de 1,76%, a 4.955,55 pontos.
No mercado de commodities, o preço do barril de petróleo WTI com entrega em março, negociado na Bolsa de Nova York, caía 1,26%, a US$ 90,59, enquanto em Londres o produto tipo Brent com vencimento em março tinha depreciação de 1,22%, a US$ 91,07.
Câmbio
No mercado de câmbio, o dólar à vista operava, há pouco, em queda de 0,73%, cotado a R$ 1,748. O dólar futuro com vencimento para fevereiro também caía (1,04%, a R$ 1,748). O Banco Central realizou leilão de compra de dólares no mercado, com taxa de corte de R$ 1,7436.
Juros
Os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI), negociados na BM&F, projetavam taxa de 12,84% para janeiro de 2012, queda sobre o fechamento de quinta-feira, de 12,90%. Os contratos com vencimento em janeiro de 2010 estavam cotados em 12,70%, também em queda sobre o último fechamento, de 12,72%.
A Fundação Getúlio Vargas (FGV) informou hoje que o Índice de Preços ao Consumidor-Semanal (IPC-S) encerrou janeiro com inflação de 0,97%, 0,01 ponto percentual abaixo da taxa divulgada na última apuração. As maiores contribuições para a desaceleração da taxa do índice partiram dos grupos Alimentação e Transportes.